Estar ou ser mãe: entre excessos e faltas

Ser mãe não significa necessariamente ter filhos. Filhos de pais idosos, cuidadores de idosos, profissionais que se dedicam a cuidar de um bem maior, pessoas que cuidam dos amigos, dos companheiros ou companheiras: todos estão no papel de mãe. Seja qual for a ordem das relações, essa função exige uma constante e eterna busca por equilíbrio.

Esse equilíbrio encontra-se em algum lugar entre o excesso e a falta, tanto de cuidados como de limites. E por ser difícil de dosar esses fatores, costumamos seguir aquilo o que a mente e o coração apontam como a melhor atitude a ser tomada.

Cientes do risco de errar na dosagem, mesmo agindo com intenção de oferecer o melhor cuidado, podemos então nos perguntar: como saber para qual dos extremos pendemos? A resposta a essa questão virá na sequência, a partir das inúmeras formas como a pessoa que recebe os cuidados costuma agir.

Para exemplificar a tendência ao exagero nos cuidados, temos a escultura metafórica do Infantilizador, no Kit 01 “Argila: Espelho da Auto-Expressão”. Nele, o adulto ou aquele que cuida utiliza mamadeira para alimentar uma criança crescida, cujo tamanho demonstra condições para fazer uso de um copo. Desta forma, o cuidador mantém dependente e sob controle aquele que recebe os cuidados – o que pode gerar um grau de eterna infantilização. Essa imagem representa ao mesmo tempo o dar excessivo e a falta de limites.

    

Em contrapartida, a escultura metafórica Adulto e Criança, no Kit 02 “Argila: Espelho da Auto-Expressão”, expressa muito bem o outro extremo: a criança é colocada no lugar do adulto, sendo dela cobradas atitudes incompatíveis com as esperadas para a sua faixa etária. Ela é levada a realizar tarefas que exigem uma maturidade que ainda não tem.

     

Num primeiro momento, a criança se sente o próprio ser adulto: déspota, com poder de tomar decisões e dar ordens. Porém, como ainda não tem maturidade e competência para lidar com esse poder, logo é tomada por um sentimento de medo e insegurança. Aqui o exagero pende para o outro lado: muita exigência e pouco cuidado.

A resposta à questão feita anteriormente é encontrada nas atitudes geradas como consequência do desequilíbrio e no desenvolvimento em desacordo com a faixa etária.

Aqui temos dois caminhos: um deles consiste na identificação do excesso ou da falta e, a partir disso, nos devidos acertos para nos aproximarmos de uma atitude mais saudável. O outro caminho consiste na culpa por se ter errado, representada pelas grades na escultura do prisioneiro do kit 01. Culpar-se ou fazer de conta que nada há de errado são formas de manter uma situação inadequada sem gerar mudança ou procurar saída para outro caminho.

Assim, temos escolhas: perceber, para mudar e buscar um equilíbrio, ou cegar e continuar no anonimato da função materna e de zelo, deixando, muitas vezes, filhos órfãos de pais vivos.

Qual a sua escolha: mudar ou não enxergar? Ainda dá tempo...

Parabéns a todas as mães em seus diferentes formatos pelo seu dia de hoje e pelos outros 364 dias do ano.